quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Monte Alegre é surpreendida por bandidos - Mas, resposta conjunta da Policia, impede o Pior

Bandidos fortemente armados, tiroteio, policiais militares reféns, viatura da PM roubada, prédio da guarda municipal crivado de balas, hospital fechado, fórum trancado, comércio com as portas abaixadas. O cenário de um filme de faroeste ocorreu, na tarde de ontem, no centro da cidade de Monte Alegre, a 34 km de Natal.

Por volta das 12h40, uma quadrilha (a polícia não informou com precisão se foram seis ou oito homens) com armas de grosso calibre, em um gol prata de placas CMF 5246 de Mamanguape (PB) e em duas motos chegaram à cidade e atiraram contra três policiais militares que estavam na frente do prédio da Guarda Municipal da cidade (local onde funciona também o batalhão da PM). Segundo os policiais que estavam no local, o objetivo da quadrilha era roubar o carro forte que estava chegando à cidade para abastecer a agência do Banco do Brasil. Agentes penitenciários que estavam no fórum fazendo a guarda de dois presos que eram ouvidos em uma audiência ao perceberem o tiroteio também atiraram contra os bandidos. Os criminosos fugiram do local em uma viatura da PM e levaram como reféns os três policiais: o sargento Nascimento, o soldado J.Gomes e o soldado Cristiano. As vítimas foram liberadas em Laranjeiras de Abdias. Os bandidos fugiram pelo canavial.

De acordo com informações da polícia, a viatura com rastreador facilitou a localização do veículo. Um rádio HT também teria auxiliado as vítimas a acionarem a polícia. O sargento Nascimento foi baleado com um tiro na perna durante o tiroteio e, depois de ter sido liberado pelos bandidos teria sido socorrido para o hospital Walfredo Gurgel, o soldado Cristiano foi ferido com um tiro de raspão no rosto. Após ter sido medicado no Hospital Maternidade Lavosier Maia seguiu com outros PMs em diligências para capturar os criminosos. Já o soldado J. Fernandes permaneceu parte da tarde no ambulatório do hospital em Monte Alegre. Ele apareceu na porta e disse que não queria falar com a imprensa.

Um familiar afirmou que o soldado estava psicologicamente abalado e que a mulher da vítima também passou mal depois de saber que o marido havia sido feito refém. Após ter sido medicado, enfermeiros disseram que o soldado estava com a pressão alta, 15 por 11. O Gol utilizado pelos bandidos foi periciado por funcionários do Instituto Técnico-Cientifico de Polícia (Itep) no final da tarde. Várias marcas de tiros foram encontradas no carro.

Um outro veículo que estava estacionado próximo ao local do tiroteio foi atingido por um disparo. No vidro da parte de trás do Celta prata de placas HLB/ 8328 de Belo Horizonte (MG) era possível ver que o tiro foi de uma arma de grosso calibre. Apesar do horário em que ocorreu o tiroteio, nenhum pedestre foi atingido por bala perdida.

Uma multidão se aglomerou no centro da cidade para ver a movimentação da polícia e os estrago feito pelos criminosos. A avenida João de Paiva, principal via do município (onde ocorreu o tiroteio) ficou interditada por causa da ação dos bandidos.

O tenente Carlos Farias informou à reportagem da Tribuna do Norte que o carro forte que seria roubado pelos bandidos teria parado em uma rua próxima do local do tiroteio e ao perceber que iria ocorrer um assalto, o condutor do carro forte não seguiu para a agência bancária (que fica localizada na mesma rua onde ocorreu a ação dos criminosos). “O carro forte voltou para Natal. Não sei o carro forte iria abastecer o banco ou se iria retirar o dinheiro da agência”, detalhou o policial.

Comércio e serviços públicos param

Impossível acreditar que tudo aquilo estava acontecendo em uma cidade que até pouco tempo tinha ares de pacata. Boa parte do comércio foi fechado diante do tiroteio. O principal mercado da cidade baixou as portas. Todos os trabalhos que estavam sendo realizados no fórum da cidade foram interrompidos e as portas fechadas. As pessoas ficaram dentro do prédio trancadas com medo dos tiros.

Mas o pior aconteceu no Hospital Maternidade Lavoisier Maia. Os funcionários estavam com receio de que pudesse ocorrer uma invasão. Os pacientes foram trancados dentro das salas de atendimento. Foram tantos tiros que a população contabilizou mais de 50. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo em Monte Alegre, o que provocou pânico entre moradores e trabalhadores da localidade. Cada um se protegia como podia.

Havia a suspeita de que os assaltantes queriam resgatar os presos que estavam no fórum ou que a intenção era sequestrar uma autoridade da justiça, mas depois de algum tempo as suspeitas recaíram mesmo sobre o carro forte.

Um dos funcionários do hospital disse que ouviu tantos disparos que não sabia para onde correr. E o medo tomou conta da técnica em enfermagem Célia Câmara. O desespero foi tanto que o primeiro lugar que ela encontrou para se esconder, dentro do hospital onde trabalha, foi no banheiro. “Eu não sabia de onde vinham os tiros. Cada um se protegeu como pode”.

Os moradores e trabalhadores da cidade tinham receio de serem atingidos por bala perdida. O segurança do fórum Fernando Gomes de Souza, por exemplo, disse que todos os funcionários ficaram dentro do prédio. “Foi um desespero grande. A gente trancou tudo e ficou lá dentro”.

Segundo Fernando há pouco mais de um mês, bandidos fortemente armados, durante o dia, assaltaram a agência do Banco do Brasil de Monte Alegre. “Foi em plena luz do dia. Eu vi tudo. Agora é assim”.

Maria Aparecida Silva disse que caminhava pela rua quando começou a confusão e que chegou a ver os bandidos de longe. A mulher contou que, pelo menos, um deles estava com roupas camufladas. “Era tiro para todos os lados. Consegui ver um dos assaltantes rapidamente, mas estava preocupada com minha integridade física. Pensei que iria morrer”.

A dona de casa Maria José Fernandes afirmou que havia saído de casa para fazer compras no comércio e que ao ouvir os disparos, primeiramente achou que eram fogos de artifício, mas que, em seguida percebeu que eram bandidos. “Nunca vi nada parecido na minha vida. Eu quero é sair desse lugar. A polícia está desmoralizada”.

O morador Jailson Gomes acredita que oque ocorreu ontem em Monte Alegre é o reflexo da insegurança. “Em uma cidade que possui pouco mais de 25 mil habitantes acontece tudo isso. Cadê nossos governantes?”. Gomes disse também que o efetivo policial foi reduzido na cidade o que pode ter facilitado a ação dos assaltantes. “Com poucos policiais os bandidos fazem o que querem”.


Batalhão de Choque é mobilizado


Diante do caos instalado em Monte Alegre várias viaturas foram acionadas para o local. Policiais do Batalhão da Policia de Choque (Bpchoque), do Grupo Tático de Operações (GTO), da Ronda Ostensiva com o Apoio de Motocicletas (Rocam), policiais da cidade de Vera Cruz e o helicóptero Potiguar I da Secretária de Segurança Pública e Defesa Social foram enviados para a área de conflito. Mais de 15 viaturas saíram de Natal com destino à Monte Alegre.

Em todas as cidades circunvizinhas policiais montaram barreiras. Em Brejinho, por exemplo, uma barreira improvisada foi montada com vários PMs. O objetivo era tentar localizar algum criminoso que pudesse tentar fugir pela localidade. Vários motoqueiros e condutores de automóveis foram parados pelos policiais. Apesar dos esforços, os PMs não conseguiram localizar nenhum dos assaltantes na ação realizada na entrada da cidade de Brejinho.

Para aumentar o efetivo policial, a delegacia de Monte Alegre foi fechada para que todos os agentes de polícia lotados naquela unidade pudessem auxiliar nas diligências.

Em Laranjeiras de Abdias a polícia fez uma varredura, nas comunidades conhecidas como Mundo Novo e sítio Malhada também foram feitas diligências. A grande área com plantação de cana e o matagal, além de inúmeras estradas vicinais que formavam um labirinto dificultou o trabalho dos policiais na localização dos bandidos, entretanto com o apoio do helicóptero Potiguar I que sobrevoou durante toda a tarde a região foi possível localizar um dos criminoso.

Em um determinado momento a aeronave aterrizou para que os assaltantes pudessem pensar que a polícia não estava mais no local. O objetivo era fazer com que os assaltantes saíssem do mato fechado. A tentativa não teve êxito.

Pela primeira vez no Rio Grande do Norte, os policiais que estavam no helicóptero Potiguar I atiraram contra os bandidos. Esse foi o momento em que um dos assaltantes foi detido. A partir da prisão do homem foi possível a polícia recuperar duas motos e ainda várias armas que estavam em poder do bando. Foram apreendidas: uma espingarda calibre 12, uma pistola 765 (em uma casa em Vera Cruz alugada há mais de um mês) uma pistola ponto 40 e dois revólveres calibre 38.

Há informações de que um dos assaltantes teria sido baleado, mas o tiro que atingiu o criminoso teria sido disparado durante o tiroteio, ainda na cidade de Monte Alegre, porém até às 20h30 de ontem a polícia não havia confirmado se o assaltante baleado era o mesmo que foi preso na operação.
Fonte: No minuto.com e Tribuna do Norte


Não fosse o trabalho conjunto dos órgãos de segurança envolvidos, e a presteza na resposta por parte da Polícia Militar, teria havido  um cenário ainda pior. (Tenente Wolczak)



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